terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

... time passes trough time...

1 comentário:

  1. Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
    Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
    Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
    (Enlacemos as mãos.)
    Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
    Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
    Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
    Mais longe que os deuses.

    Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
    Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
    Mais vale saber passar silenciosamente
    E sem desassosegos grandes.

    Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
    Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
    Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
    E sempre iria ter ao mar.

    Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
    Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
    Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
    Ouvindo correr o rio e vendo-o.

    Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
    No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
    Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
    Pagãos inocentes da decadência.

    Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
    Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
    Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
    Nem fomos mais do que crianças.

    E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
    Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
    Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
    Pagã triste e com flores no regaço.

    Ricardo Reis


    O nosso Fernando Pessoa*
    Sei que gosta, todos nós gostamos mas há algo a acrescentar nestas lindas do tempo. A vida passa, o relógio anda, isso será sempre uma enterna garantia. Contudo, como traçamos os nossos percursos é que definirá a nossa vida. Meras palavras, meros gestos... Tudo será tempo, mas compreender, isso sim não está ao alcance de todos.
    Não olhar contemplativos para o tempo, mas sim compreender o porquê de ele passar silenciosamente por entre ponteiros. Tempo dá-nos tempo para ser maior do que o próprio tempo.


    João Carlos

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